Por Cristiano Abud, via Vi o Mundo
Prezados(as) senhores(as),
Não sei como definir este e-mail – apelo, protesto, alerta, sugestão. Talvez, a melhor denominação seja apelo. Apelo porque vem de um insignificante cidadão brasileiro.
Poderia começar com este e-mail frases batidas e repetidas: “Vivemos um tempo de violência…”, “Devemos combater a violência que assola nosso dia-a-dia…” ou “A escalada da violência nas escolas…”. Mas…
Mas, após o nariz de cera, começarei com um argumento: “Sobre certos temas, já há a autocensura nas redações brasileiras. Há trinta ou quarenta anos não se publicam notícias sobre suicídios, para evitar que desvairados copiem métodos, ou, atualmente, não falamos nomes de facções criminosas para não propagandearmos suas marcas e incentivarmos seguidores.”
Agora, chego ao meu ponto. O massacre de Columbine, nos EUA, não posso afirmar que tenha sido o primeiro (pelo menos tornou-se o mais conhecido – filme de Michael Moore), mas, sua divulgação massiva na mídia provocou uma onda sinistra, sangrenta e brutal de imitadores (em inglês, copycats). Foram tantos que o interesse da mídia diminuiu. E em seguida, os massacres perderam intensidade. Se fizermos uma linha temporal, o crescimento destes acontecimentos são acompanhados pelo incremento da cobertura da mídia, que quando arrefece os diminui. Isto nos Estados Unidos. No Brasil, tivemos nossa primeira infeliz experiência.
Não estou, tolamente, acusando a mídia de incentivar atitudes treslocadas com o destaque dado a estes crimes brutais. Mas, a repetição e a espatacularização deles, com infográficos, reconstituições, entrevistas e vídeos exclusivos, passa com certeza uma mensagem, que mentes perturbadas transformam em modelos. Como defesa, jornalistas podem dizer: “Só escrevi uma reportagem…”, “O público precisa saber…” ou “A concorrência não vai deixar de usar…” Será?
Já tivemos três casos de copycat – ameaça de bomba (trote) e jovem preso com faca no RJ e assissanato no Piauí, Precisamos de mais? Precisamos de ideias idiotas como colocar caríssimos detectores de metais na porta de escolas, enquanto alunos não tem carteira e professores ganham salário mínimo? Podemos fazer alguma coisa?
Enquanto, cidadãos podemos valorizar a cortesia, a paciência, a tolerância. E vocês como jornalistas, poderiam evitar a divulgação diária de fotos, textos, vídeos e áudios quando acontecerem outros massacres?
Por isso, peço, sugiro, protesto e alerto: por favor, não publiquem matérias sobre massacres escolares.
Atenciosamente, Cristiano Abud.
Nota do Viomundo: O caso de Realengo já mobilizou todas as taras ideológicas existentes na praça. Uma delas diz que o atirador é terrorista islâmico, por ter copiado métodos do terrorismo islâmico. Como assim? Só se for o bin Laden do bulying, armado com um 32 e um 38. Nunca se escreveu tanto as palavras “extremismo”, “islâmico”, “muçulmano”, “mesquita”ou “Alcorão” num contexto a que elas mal pertenciam, já que o atirador, de acordo com a própria família, cresceu frequentando uma igreja cristã. Ou seja, o caso foi usado num contexto de profundo preconceito. De factual, temos que o atirador era solitário, frequentava muito a internet, tinha algum distúrbio mental (dificilmente saberemos exatamente qual, já que o diagnóstico depende de avaliação em pessoa), tinha a percepção de ter sofrido bulying e teve acesso razoavelmente fácil a armas. Talvez a gente consiga tomar medidas quanto a estes cinco pontos. Com certeza, o leitor Cristiano Abud toca num ponto importante: o próprio atirador, num dos vídeos divulgados, elenca como “heróis” outros atiradores que atacaram em escolas. Mas quanto ao ponto levantado por ele, duvido que a mídia será menos irresponsável se a própria polícia se dispõe a alimentá-la.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/o-alerta-do-leitor-sobre-os-crimes-copycat.html
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